Manuel

Sobre o Poeta

Num tempo em que a poesia procura desesperadamente a novidade, nem que seja à custa do hermetismo da palavra, da figura arrojada, do “non sens”, da violência do verbo, a poesia de Manuel Paulo é um rio de águas transparentes em que o leitor mais descuidado vê retratados os seus anseios, se depara com as suas angústias, percebe como é importante sonhar para se realizar como homem.

Isabel Bruma, excerto do prefácio de Ponto Final

Ponta de uma caneta-tinteiro

E agora?
Cada dia, desfolhando notícias
de males, desditas e tormentas,
arrojos, partilhas e heróis,
converto medos, angústias, incertezas, no conhecimento profundo do caminho percorrido, para onde vamos,
do que és, como és e no que sou.
E nesta caminhada para um outro mundo onde não posso levar comigo o que sei,
deposito em cada dessa multidão, no desassossego da apatia e da distância
sem abraços, nem números,
nem notícias de abertura,
mas nos afetos, na meiguice, na ternura, a arte e o saber da esperança.
Sempre. Sempre.
Com o teu espírito aberto.
E o meu coração em paz.

Retrato do autor Manuel Paulo
Arca aberta contendo exemplares das obras de Manuel Paulo

Sem mais.
Tal qual sou. Um punhado de ilusões.
Uma mão cheia de fantasia.
Um balouçar
entre o tédio e a alegria,
entre o dever e a utopia,
entre a farsa e a euforia.
Com muito trambolhão
à mistura e também
alguma sabedoria.

 Excerto de Auto-Retrato em “Ponto Final

Poucas vezes vi resumir tão bem o mundo da escrita como EDWARD WILSON-LEE o faz no final do seu livro A TORRE DOS SEGREDOS (Bertrand Editora):

“Não estivemos sempre aqui, sentados na casa do lado, fingindo que estamos num mundo que é só nosso? Vivemos já no arquivo de sonho de John Donne, que há de reunir todas as nossas folhas dispersas para essa biblioteca em que cada livro estará aberto um para o outro; o desafio, segundo parece, é afastarmo-nos do que estamos a ler e permitirmos a nós mesmos vaguear pelo mundo que espera por nós nas prateleiras.”
 
SEM MAIS
 
Ilustração de uma arca aberta