Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte,
há palavras imensas que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar,
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição.
Mário Cesariny . 1923 – 2006
No curso oscilante
duma vida de longo curso,
fui treslendo palavras escritas
por mãos em revoltas e carícias,
esperanças e descrenças,
em mortes e ressurreições.
E hoje, amigo, nesta hora nona,
partilho contigo o ano que termina.
Nele vislumbro palavras de sonho,
de festa e de folia,
a par de palavras fúteis,
vazias de sentido,
palavras de tédio e solidão,
todas tombando ao de leve,
como penas,
no branco do meu papel.
São o que são.
Mas cada mão, no seu estilo,
escreve o que lhe vai no coração.
E tudo isto é vida.
Tudo isto é bom.
E agora?
Esta madrugada,
naquele momento único
onde o passado termina
e o futuro começa,
tu e eu vamos entrar de novo
no desconhecido,
no insondável,
no único,
no irrepetível,
talvez num poço sem fundo
ou nas portas do Céu,
talvez nas promessas que adiamos,
talvez nas utopias que buscamos.
Mas certo, certo,
é que iremos ser nós mesmos.
Tal qual somos.
Tal como cremos.
Tal como amamos.
E tudo isso é vida.
Tudo isso é bom.
Votos do melhor para 2020.
Manuel Paulo
31 dezembro 2019