Porque hoje é sábado
parei a pensar o que hoje pensei.
E pensei no que sou.
No acaso do tempo de cada um,
há gente determinante.
Se esse acaso do tempo não acontecesse
seríamos certamente iguais a nós mesmos.
Mas nunca seríamos os mesmos.
Manuel Paulo
Era uma vez um saco
Sou saco perdido
no meio da estrada.
não sei se vazio
se cheio do nada.
Sou cabra
sou cobra
sou coroa de rei.
sou fada madrasta
nas teias da lei.
Sou puro sou virgem
sou casto no lar,
sou bruto sou bronco,
sou monstro
no mar.
Sou pajem,
sou prenda,
sou tenda contigo.
Sou farsa sou frágil,
sou falso comigo.
Sou saco perdido
no meio da estrada,
não sei se vazio
se cheio do nada.
Sou belo,
sou crente,
sou ponte do rio.
Sou luz e sou fonte,
no meio do frio.
Sou filme, sou vento,
se tento lutar.
Sou palco,
sou cena
sou pena a voar.
Sou cana batida
pelo vento de lado,
que goza
na vida
bocado a bocado.
Sou saco perdido
no meio da estrada,
não sei se vazio
se cheio do nada.
Sou naco de broa
na boca do mundo,
palhaço, cantor,
pastor,
vagabundo.
Sou prenda
embrulhada
em papel de jornal.
Sou coisa, sou loiça
sou simples mortal.
Sou saco perdido
no meio da estrada,
não sei se vazio
se cheio do nada.
Mas parto
contente
de tudo
que sou.
Não se sou gente,
não sei se sou crente,
não sei donde venho
nem para
onde vou.
Mas sei
o que sou.
Um pouco
de ti,
um pouco
de mim.
um pouco
do outro
que por mim
passou.