Porque hoje é sábado
parei a pensar o que hoje pensei.
E libertei-me.
Sou aquele
que o cume me vê
qual ele
caminhar no vale do silêncio
sonhando dormir a seu tempo
em Jerusalém.
Manuel Paulo em
E assim dormirás
Caminhantes audazes
no tempo e no espaço,
caminheiros descalços,
mas valentes,
de cumes e abismos,
deitados serenos
num chão de crenças e memórias,
olhando os cumes,
alcançamos a libertação.
E ganhamos o direito
de voltar a ser crianças,
com o jeito que temos
para contar histórias
e com tantas delas
para vos contar.
E aqui vai uma.
1964 – 15 anos.
As primeiras letras
esvoaçavam pelo ar
tombando inseguras
nas paredes caiadas
do meu quarto de catraio.
Mas só meu.
Por entre contas-correntes e balanços,
projetos de negócio,
fracassos e sucessos,
quantos ditongos e pronomes,
hiatos, advérbios, conjunções
aterraram ao de leve
no branco neve do meu papel.
Fui-os guardando
de mansinho, um a um,
na arca da aliança
onde recolhemos
as lembranças e os segredos
à maneira de flores.
2014 – 75 anos
Uma breve conversa
com a Velha Senhora
quanto eu,
arrumou ideias,
rompeu cadeias,
dissipou mitos
de bem comportado,
abriu a Arca
e Ponto Final aconteceu.
E foi bom.
E lá vão cinco.
E aquelas letras
que tombavam inseguras
nas paredes caiadas
do meu quarto de catraio
acharam a terra-mãe
adonde repousar.
Em paz.
Até à eternidade.