Porque hoje é sábado,
parei a pensar o que hoje pensei.
E regressei às origens.
Transportai um punhado de terra todos os dias e fareis uma montanha.
Confúcio
Amar.
No princípio era o verbo.
Um verbo gerado numa praia distante,
ora solarenga, ora nublada,
ora enxuta, ora molhada.
Nela as areias formavam multidão
que lavrava, comia, pensava,
prometia, calava.
Certo dia,
nessa praia distante
entre a multidão,
duas areias pequeninas
brincando à cabra cega
chocaram de frente.
Retiraram as vendas
e olharam-se
olhos nos olhos.
Foi em terras do Gerêz.
E viram como isso é bom.
E foi de vez.
Enleando-se,
as duas areias morreram
para que pudesse nascer
uma pedrinha maior
que o mar já não podia arrastar.
Enleando-se,
Foram aos poucos morrendo
cada dia
para que pudessem nascer
rochas de tamanho maior.
E ontem,
passando em passeio
nessa praia distante,
ora solarenga, ora nublada,
ora enxuta, ora molhada,
o que vi.
Um rochedo virado montanha
que nenhum abalo derrubará.
Trepei a nossa montanha.
Sentei-me no pico, em silêncio,
olhando o horizonte.
Ao longe
eu vi fascinado
nessa praia distante
entre a multidão,
duas areias pequeninas
brincando à cabra cega,
olharem-se olhos nos olhos.
Na eternidade, olhando do Céu
essa nova rocha virada montagem,
seja eu quem for, esteja onde estiver,
serei feliz de novo.