E parti. De saco ao ombro.

Porque hoje é sábado
parei a pensar o que hoje pensei.
E parti. De saco ao ombro.

De saco ao ombro

No fundo de um buraco ou de um poço, acontece descobrirem-se as estrelas.
Aristóteles

Dos sonhos fiz um buraco.
Do nada teci um saco.

Enchi o buraco de ilusões
e o saco de solidões.

Preguei-me a partida
de pôr ao ombro
o saco tecido do nada.

Tapei os sonhos do buraco
com areia molhada,
bem calcada,
por forma a não deixar que soubessem
quanto sonhei.

Parti para a vida
de saco ao ombro,
saco tecido do nada,
todo eu e as minhas solidões.

Fui apanhando as cerejas
que achei no caminho.

Devagarinho,
fui comendo
uma a uma.
A dos amigos,
a dos parentes,
a dos afins,
a dos diabos
e a dos querubins.

Ai de mim
que de todas provei.

E não sei em que dia,
em que hora, em que lugar,
tive uma vontade louca
de voltar
ao buraco
das minhas ilusões.

Retirei a areia molhada,
e encontrei
quase nada.

De tudo que deixei
apenas restavam caroços
de cerejas comidas,
ressequidas.

Voltei a partir
de saco ao ombro,
saco tecido do nada,
todo eu e as minhas solidões.

Mas levava o saco mais cheio.
Levava também o recheio
das cerejas
comidas por multidões.

 

 

 

 

 

 

 

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