Porque hoje é sábado,
parei a pensar o que hoje pensei.
E fui feliz sem motivo.
Ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade.
Carlos Drumond de Andrade.
Houve tempos de dor.
Houve tempos de espera.
Houve tempos de esperança.
É destes que hoje aqui vos conto.
Destapei soluços.
Engoli lágrimas.
Esfreguei o coração
na brisa daquela madrugada.
Queria ser feliz de qualquer jeito,
sem mestre, nem trela, nem quimeras,
levando nas mãos uma marca silvestre
e no peito a última rosa que me deras.
Mas por cada soluço destapado
nova trave nos olhos
encurralava as lágrimas vertidas
e impedia o sol de penetrar.
Perguntava em cada madrugada.
Mas porquê? E porque sim? E porque a mim?
Buscava a origem, o porquê, para que serve
o de bom e o de mau que acontecia,
todo o bem e todo o mal que escorregava
de tudo quanto era ou que fazia.
Em tempos da dor mais profunda do mundo
aqueles tais, em que como tu em outra ocasião,
via murchar sem entender quantas rosas viçosas
enxertara em ilusões que edificara.
Em tempos de espera, de vazios, de calados,
cheio de malas, de sucessos, de prosápia
e mai-las todas essa coisas úteis
que espremidas, não servem para nada.
Perguntava em cada madrugada
Mas porquê? E porque sim? E porque a mim?
Mas a última lágrima mais gorda
dum último soluço destapado,
qual onda em mar encapelado
desprendeu-me a trave que cegava.
E nessa madrugada derradeira afirmei-me.
Porque sim. Irei até ao fim na esperança.
E nessa madrugada derradeira
Destapei soluços.
Engoli lágrimas.
Esfreguei o coração
e fui feliz sem ter qualquer razão.
Até hoje.
Mas até quando?