Porque hoje é sábado, parei a pensar o que hoje pensei.
E impus-me uma paragem.
Se há o Dia dos Namorados
Porque não haver o dia dos Amorosos,
o Dia dos Amadores, o Dia dos Amantes?
E o Dia dos Amantes Exemplares
e o Dia dos Amantes Platónicos,
que também são exemplares à sua maneira?
Porque não instituir, ó psicólogos,
ó lojistas e publicitários, o Dia do Amor?
O dia de fazê-lo, o dia de Agradecer-lhe,
o de Meditá-lo em tudo que encerra
esse mistério e grandeza,
o Dia de Amá-lo?
Carlos Drumond de Andrade
Paragem
Acordei. Abri os olhos.
Soletrei o teu nome,
provei do teu calor.
Inebriado,
tal qual na madrugada
em que tudo começou,
impus-me uma paragem
no tempo e pensamento
para regressar,
no entreato desse nada sublime,
aos fundos do fundo do amor.
Foi nesse longo instante
vazio do tempo, do modo
e pensamento, mas tempo bastante
para olhar-te o coração,
que eu percebi
donde vinha o teu encanto.
Terminado que foi o entreato
desse nada sublime,
de regresso dos fundos
do fundo do amor,
depois de cada um olhar
bem fundo o coração do outro,
tu é mais tu, eu sou mais eu,
alfa e omega da nossa relação,
mas nós somos um só.
Bem ajas meu presente, meu amor.