Porque hoje é sábado
parei a pensar no que hoje pensei.
E deitei-me sereno olhando os cumes.
Todos os cumes
Estão em silêncio.
No alto de todas as árvores
Apenas sentes
Um leve sopro;
Os pássaros emudecem na floresta.
Tem paciência, em breve
Também tu dormirás.
Goethe
E assim dormirás
Deitado sereno,
tranquilo
olhando os cumes,
no entreato entre dois turbilhões,
as costas repousam num mundo
a que as costas virei.
A brisa suave
acarinha-me a face serena
olhando os cumes,
arrastando distante
memórias, proezas, histórias,
angústias, tristezas.
E fiz silêncio
sereno, tranquilo
olhando os cumes
que o tempo do tempo deitado
de costas no mundo
é meu. É todo meu
E no tempo
que o tempo me deu
ao silêncio,
sereno, tranquilo,
olhando o cume,
perguntei-me:
O que sou?
De onde venho?
Para onde vou?
No entreato entre dois turbilhões
e outros tantos silêncios,
sereno, tranquilo,
olhando o cume,
com a brisa na face,
achei a solução.
Sou aquele
que lá das alturas
o cume me olha,
inquieto ou sereno,
qual ele que nasce com ramos
para os pássaros pousar.
Sou aquele
que o cume me vê
qual ele,
caminhar no vale do silêncio
sonhando dormir a seu tempo
em Jerusalém.