Porque hoje é sábado, parei a pensar o que hoje pensei.
E pensei: que faz um poeta no meio da guerra?
“Enquanto a cor da pele for mais importante que o brilho dos olhos, haverá guerra. ”
Bob Marley
(cantor, compositor e guitarrista jamaicano, que tornou o reggae mundialmente conhecido.)
Era jovem.
Eu doido por guerra arrisquei.
Peguei nos povos da terra
e pu-los aos molhos.
Por cima os claros,
de lado os escuros
por baixo os castanhos,
da frente os mestiços,
por trás os postiços.
Arrumei-os
por casta e por seita,
a norte os de esquerda
a sul de direita.
Para meu espanto
a briga foi breve.
Uma ou outra intriga,
de pouco valor,
que o senhor que se sabe
temia o pior.
Recolhi todo o povo,
baralhei e tornei
a dispô-lo aos molhos.
Desta vez
divididos pelos olhos.
Por cima os castanhos,
de lado os azuis,
por baixo amarelos,
da frente os mais tristes
por trás os mais belos.
Arrumei-os
por pranto e remela,
a norte os mirrados
a sul os molhados.
Voltei descansado
ao meu pedestal.
Afinal
eu doido por guerra
falhara.
Até que a afronta foi tal
que a guerra estoirou.
O povo disperso,
aos molhos,
bradando racismo,
me apedrejou.
Morri lapidado.
Bem feito.
Que tem um poeta sem jeito
a fazer
no meio da guerra?