Porque hoje é sábado,
parei a pensar o que hoje pensei.
E fingi que pensei.
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
Fernando Pessoa
Que digo eu
Sabeis o que me apetece
ao ver o mundo a ruir?
Encarar o que acontece
como se fosse a fingir.
E quando o dia amanhece
sem lugar para onde ir,
logo encaro o que acontece
como se fosse a fingir.
Se o político enrouquece
de tantas mágoas carpir,
logo encaro o que acontece
como se fosse a fingir.
Se pouca gente enriquece
e são tantos a tinir,
logo encaro o que acontece
como se fosse a fingir.
E quando o povo emudece
com vontade de bramir,
logo encaro o que acontece
como se fosse a fingir.
Mas não é.
Olha que não.
Porque a dor que a gente sente
seja neutro ou seja crente,
analfabeto ou letrado,
polido ou cultivador,
é destino permanente
deste povo fingidor.