Porque hoje é sábado,
parei a pensar o que hoje pensei.
E pensei longe.
Já te aconteceu? Leres um texto que parece mesmo ter sido escrito para ti? Olha que a mim também.
Paloma Sanchez-Garnica descreve em A Alma das Pedras a paixão do canteiro Arno pela sua profissão:
” Pode ser um pouco difícil de entender. Cinzelo a superfície das pedras e, quando o pedreiro levanta o muro, a pedra manterá, ao longo dos tempos, o que quer que eu tenha gravado nela. Graças às minha mãos, a fria pedra deixa de ser um material inerte para se converter em algo imortal, capaz de revelar aquilo que eu quiser.”
E mais adiante:
“… posso deixar sinais nesses muros, mensagens que outros olhos poderão ver passado muito tempo, quando já nem tu nem eu não estivermos neste mundo.”
Ao lê-lo, tive uma vontade louca de ser cinzel. E transcrever numa pedra deste castelo o que hoje pensei.
Construi um castelo.
Pedra sobre Pedra.
Sozinho,
com pá e picareta
cavei as valas
para as fundações.
Levantei as paredes
Pedra sobre Pedra.
Numerei cada uma
para não me perder.
Tentei encaixa-las,
sem cimento
tal como os antigos.
À chuva e ao relento,
atingi as ameias.
Coloquei um par delas.
Deixei entre cada uma
intervalos regulares.
E pelos espaços
fui lançando
flechas,
piropos,
mantimentos,
petardos e
sentimentos.
Por cada intervalo
que surgia,
escolhia
a peça a lançar.
A última fresta,
pegada à primeira,
(más contas que fiz)
ficou mais estreita.
Por ela
nem um dedo cabia.
Esgotei
as munições que levara.
Deitei-me, cansado,
encostado ao portão principal.
E dormi.
Passada
não sei quanta noite,
não sei quanto dia
acordou-me
um raio de Sol
que entrava
pela ameia
por onde
nem um dedo cabia.
Poema Pedra sobre Pedra em Ponto Final